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A diretoria eleita democraticamente é destituída, sendo substituída por interventores

1964
Nome
A diretoria eleita democraticamente é destituída, sendo substituída por interventores
Descrição
O Sindicato Nacional dos Aeronautas, foi uma das organizações alvo da ditadura empresarial militar iniciada no ano de 1964. Desde a década de 1960, a entidade já era foco de investigações por conta de suas ações de cooperação com outras categorias profissionais e pela denúncia das mazelas sociais que afetaram os aeronautas e por consequência a sociedade.
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O Sindicato Nacional dos Aeronautas, foi uma das organizações alvo da ditadura empresarial militar iniciada no ano de 1964. Desde a década de 1960, a entidade já era foco de investigações por conta de suas ações de cooperação com outras categorias profissionais e pela denúncia das mazelas sociais que afetaram os aeronautas e por consequência a sociedade, interpretadas na conspiração golpista, como atividades subversivas. A proposta da Aerobrás, uma companhia aérea estatal, também incomodou o empresariado, principalmente a Varig, chefiada a época por Rubem Berta.

No dia 02 abril de 1964, os diretores do SNA já esperavam ser alvos dos militares e não compareceram à sede do Sindicato na cidade do Rio de Janeiro. Já era aguardado pela diretoria uma intervenção que começou a se anunciar com Ato Institucional nº 01. Neste momento os diretores sindicais Paulo de Sant’Anna Machado, presidente do SNA, Othon Canedo Lopes, presidente do Sindicato Nacional dos Aeroviários, e Paulo de Mello Bastos diretor do SNA e presidente da FNTTA – Federação Nacional dos Trabalhadores em Transporte, tiveram seus direitos políticos cassados pelos militares.

A intervenção foi formalizada no dia 11 de abril de 1964 pela portaria S/N-GM2 do Ministério da Aeronáutica. Nesta portaria foi nomeado como presidente o interventor João Luiz Vidigal Pereira das Neves, comandante a época da Panair do Brasil. João Vidigal compôs o restante da diretoria de interventores com a nomeação de Olavo Guimarães Ayala como secretário geral, Walter Pedro da Fonseca como secretário de finanças e como secretário de relações internacionais Palladio Tupinambá Junior.

Em 14 de abril, se iniciaram a investigações e mudanças propostas pelos interventores. Seguindo as proposições da portaria S/N-GM2, as principais demandas do comando  eram a apuração da suspeita de ligações subversivas na delegacia de São Paulo, a viabilização da “democratização” do sindicato e por fim uma auditoria financeira.

Após esta apuração, nada se encontrou de suspeito nos documentos, porém a diretoria sindical foi convocada para depoimento na sede do SNA ainda no mês de abril, o que levou a indignação do ex presidente Paulo de Sant’Anna Machado, manifestada em uma carta enviada a todos associados do SNA em 20 de maio de 1964.

Nos conflitos entre as diretorias, até mesmo funcionários considerados suspeitos, foram dispensados de suas atividades. Dentre eles, os renomados advogados trabalhistas Eugenio Roberto Haddock Lobo e George Pires Chaves, e o advogado auxiliar, reconhecido filosofo e colaborador dos sindicatos, Leandro Konder. 

Os diretores do SNA Aldo da Costa Pereira, responsável por diversas pesquisas técnicas da entidade e o Comandante da Varig e militar da reserva, Paulo de Mello Bastos, foram figuras importantes na luta contra os militares  e empresas aliadas. Perseguidos pelos órgãos militares Aldo teve sua licença de voo e cargo como assessor técnico cassados pelos militares, o mesmo ocorreu com Mello Bastos, que além da licença perdida, passou por interrogatórios no DOPS e recorreu ao exílio no Uruguai entre 1966 e 1967. Suas atividades políticas só foram restauradas no ano de 1979 por meio da lei da anistia, campanha em que Mello Bastos foi um reconhecido líder.

Entre 1964 e 1966, outros interventores foram nomeados, após a renúncia do primeiro grupo empossado, até em que em agosto de 1966, fossem realizadas novas eleições sindicais sem a presença de militares. Durante o período da intervenção, os arquivos do SNA foram vasculhados e recolhidos pelo Ministério da Aeronáutica, o que provocou uma lacuna documental no período. Um dos itens documentais residuais desta fase, é o retrato dos interventores empossados pelos militares, sendo ainda nebulosa as atividades institucionais deste período.

Referências:

BASTOS, Paulo de Mello. A caixa-preta do golpe de 64: a república sindicalista que não houve. Rio de Janeiro: Família Bastos Editora, 2006.

MUSA FAY, Claudia. Asas cortadas: o sindicato dos aeronautas e o golpe de 1964. História em Revista, v. 10, n. 10, 13 jul. 2017.

PEREIRA, Aldo da Costa. Breve história da intervenção do sindicato. Relatório parcial, Rio de Janeiro, 1983.